Vira e mexe há boatos de que o mundo
vai acabar por conta de um evento qualquer. Mas desde o começo deste ano corre
por aí a notícia de que agora é sério: de Dezembro de 2012 ninguém escapa! Será
mesmo o fim de tudo que conhecemos? Antes que você se apavore, roa as unhas e
corra para se esconder debaixo da cama,vamos investigar a origem desse
mal-estar!
Os maias, povo cuja origem remonta aos anos 2.000 a
1.500 antes de nossa era, viviam no México e na América Central
e são apontados como culpados por afirmar que o mundo vai acabar.
Mas (respire!) a verdade é que nunca tal povo deixou registros sobre
o fim do
nosso planeta.
Esse é mais um boato que surgiu porque os maias adoravam estudar
o tempo e desenvolveram calendários avançadíssimos. Então, deixemos de pensar
em tragédias para conhecer uma história em que vale a pena investir
nosso tempo!
A verdade sobre os maias
Poucas civilizações deixaram conhecimentos tão valiosos
em áreas como astronomia, matemática e arquitetura como os
maias. Eles registravam a variedade de posições do Sol, as fases da
Lua, as constelações... Essas informações eram importantes para
planejar as épocas de plantio e colheita, prevenir-se de secas ou
inundações e, assim, garantir o bem-estar da comunidade.
Se um evento não coincidia com suas observações ao longo do
tempo, os maias corrigiam imediatamente até reencontrar a harmonia em
seu calendário. Para eles, deveria haver uma ordem perfeita no céu.
Isso fez com que eles dedicassem um tempo incontável para observar as
estrelas e aperfeiçoassem seu calendário astronômico ao longo de
1.200 anos! Detalhe: sem tecnologia de telescópios, satélites nem
GPS.
Além da observação dos astros, os maias dividiam o tempo
de uma maneira particular. Esqueça o calendário mais conhecido, que divide
o ano em 365 dias. Os maias organizavam o tempo em eras, compostas
por 5.125 anos cada uma, ou 13 baktunes, na língua maia. Opa, palavra
diferente à vista! Baktunes, na língua maia, são períodos de aproximadamente
400 anos cada. Multiplicados por 13, eles chegavam perto dos 5.125
anos e formavam uma era.
Só que, para os maias, o fim de uma era significava o início de
outra, em uma constante renovação. As datas eram apenas referências
para indicar a passagem dos dias. Mas não existia um fim nessa contagem! Assim,
para eles, o mundo não acabava, e, sim, o propósito de cada pessoa nele,
quando essa pessoa morria.
E essa história de fim do mundo?
Vamos responder já! Existe um lugar no estado de Tabasco, no
sudeste do México, que se chama Tortuguero. Ali,
arqueólogos encontraram muitos vestígios deixados pelos maias que um
dia habitaram o local. Uma das peças que mais chamaram a atenção
foi uma inscrição em pedra que faz referência a uma data.Tchan
tchan tchan tchan... Qual seria? Aí vai: 4 Ajaw 3 K'ank'in! Não
entendeu?
É a língua maia outra vez! Mas, calma, os pesquisadores
fizeram correlações desta data com o calendário que conhecemos e
chegaram ao dia... Adivinha? Vinte e um de dezembro de 2012! O
curioso é que os maias fizeram essa inscrição no século VII!
Como poderiam mencionar uma data tão distante da sua época?
Mistério maia
Claro que o mistério extrapolou o meio científico. Rapidamente
se espalhou a ideia de que os maias, com todo seu conhecimento
sobre o tempo, teriam previsto um grande acontecimento em 2012.
Pessoas que acreditam no fim dos tempos e em culturas antigas passaram a
afirmar que seria uma grande catástrofe. Elas pensavam que essa
poderia ser uma explicação para tragédias que ocorrem no planeta.
Pronto! A confusão estava armada! Mas você, que já aprendeu que os
maias tinham uma visão cíclica do tempo, já captou que o fim não está
próximo,
certo?
Portanto, assim como o calendário que mais usamos adota uma
data religiosa (o nascimento de Jesus Cristo) como base para a
contagem do tempo, os maias também marcaram uma data importante, como
referência para eles: 4 ajaw 8 kumku ou 13 de agosto de 3.114 antes
de nossa era, segundo os pesquisadores. Não se sabe ao certo por que os
maias determinaram este dia para iniciar sua contagem. Alguns dizem
que ela se associa à data em que o Sol alcança a posição mais alta na
região em que os maias viviam. Outros afirmam que foi uma
escolha ao acaso. O grande problema é que, a partir deste
dia, passados 13 baktunes se concluiria uma era. E, bem, você já
sabe: segundo cálculos de pesquisadores esta data coincide com
2012.
O fim não está próximo!
A data inscrita em Tortuguero significava, então, o fim de uma
era para os maias. A única profecia associada ao monumento de
pedra é que a conclusão de 13 baktunes marcaria o retorno de
uma importante divindade para o povo maia, o deus BolonYokte,
vinculado à criação e à guerra, mas nada sobre o final dos tempos.
Como já vimos, a data indicada é 4 Ajaw 3 K'ank'in, que equivale a 21
de dezembro de 2012, e corresponderia, portanto, ao fim de uma era,
mas não ao fim do mundo! Além disso, essa era a crença da cultura
maia, desconhecida para o resto de um mundo. Nossa, quanta confusão!
Mas, agora, que você já sabe que o fim do mundo não está
próximo, essa informação pode ajudar a desfazer o mal-entendido.
Afinal, se cuidarmos bem dele, o nosso planeta vai ficar firme por
muito tempo. E nada de adiar o pânico e criar outra data para o fim
de tudo, heinl?
Orlando Casares, Instituto Nacional de
Antropologia e História (INAH), México, e Elisa Martins, especial para Ciência
Hoje das Crianças.
CASARES, O. e MARTINS, E. É verdade que o mundo vai acabar?. Ciência Hoje das
Crianças. RJ, julho de 2012. p. 2-5.
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